segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O homem quando é jovem...

…é só, apesar de suas múltiplas experiências. ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que,ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio.

Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade.

O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio dia em nossas vidas, e a face do outro nos contempla como um enigma.

Feliz daquele que, ao meio dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome.

(Hélio Pellegrino)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Calmaria do Caos

Navego no mar da solidão
à bordo do barco do auto conhecimento.
Me guio pelo vazio do céu sem estrelas,
seguindo um destino sem coordenadas.

Não entendem, mas eu sei onde quero chegar.

Cardumes de medo e desespero nadam
despreocupados a minha volta,
Não tenho fome.

O tempo sopra forte
baixei as velas e
remo.

Grito todo o meu silêncio
Ensurdecedor.
Esvazio meu peito
Inspiração.

Um farol ascende, lá longe, no horizonte
onde os sonhos se põem.
Fecho meus olhos.
Para ser iluminado, deve-se
olhar para as trevas.

Meu barco pára. Chegada!
Observo a plenitude e o barulho do nada.
Meu coração está em paz, estou em casa. Pena,
que nasci para a guerra.

Zarpo novamente.
visando meus destino
olhando para trás.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Lições de vida do titio Bukowski

Como se tornar um grande escritor

você tem que trepar com um grande número de mulheres
belas mulheres
e escrever uns poucos e decentes poemas de amor.

e não se preocupe com a idade
e/ou com os talentos frescos e recém-chegados.

apenas beba mais cerveja
mais e mais cerveja

e vá às corridas pelo menos uma vez por
semana

e vença
se possível.

aprender a vencer é difícil -
qualquer frouxo pode ser um bom perdedor.

e não se esqueça do Brahms
e do Bach e também da sua
cerveja.

não exagere no exercício.

durma até o meio-dia.

evite cartões de crédito
ou pagar qualquer conta
no prazo.

lembre-se que nenhum rabo no mundo
vale mais do que 50 pratas.
(em 1977).

e se você tem a capacidade de amar
ame primeiro a si mesmo
mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma
derrota total
mesmo que a razão para essa derrota
pareça certa ou errada -

um gosto precoce de morte não é necessariamente
uma coisa má.

fique longe de igrejas e bares e museus,
e como a aranha seja
paciente -
o tempo é a cruz de todos,
mais o
exílio
a derrota
a traição

todo este esgoto.

fique com a cerveja.

a cerveja é o sangue contínuo.

uma amante contínua.

arranje uma grande máquina de escrever
e assim como os passos que sobem e descem
do lado de fora de sua janela
bata na máquina
bata forte

faça disso um combate de pesos pesados

faça como o touro no momento do primeiro ataque

e lembre dos velhos cães
que brigavam tão bem:
Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.

se você pensa que eles ficaram loucos
em quartos apertados
assim como este em que agora você está

sem mulheres
sem comida
sem esperança

então você não está pronto.

beba mais cerveja.
há tempo.
e se não há
está tudo certo
também.